Corvo no Brasil: conheça as gralhas e suas curiosidades

Corvo no Brasil: conheça as gralhas e suas curiosidades

Isso mesmo, existem corvos aqui no Brasil! São as conhecidas gralhas, da família Corvidae. Venha saber mais sobre elas!


Você sabia que existem corvos no Brasil?

Cancão-da-campina

Quando pensamos em corvos, imaginamos aqueles pássaros de penas pretas que habitam regiões distantes, não é mesmo? Realmente, esses animais surgiram na Ásia, no entanto, em diversos continentes de clima temperado, são encontrados pássaros desse mesmo gênero.

Aqui, no Brasil, também encontram-se pássaros dessa mesma família Corvidae, que são as gralhas, as quais estão presentes em muitas regiões do norte ao sul do país. Isso é possível pela facilidade que essas aves têm de se adaptar a diferentes regiões. Veja, a seguir, todas as características específicas desses pássaros e as espécies presentes na fauna brasileira.

Características dos "corvos do Brasil"

gralha em galho

Os “corvos do Brasil” possuem características muito parecidas com toda a família Corvidae. Desde as características físicas, a inteligência dessas aves, a astúcia e a capacidade de ter empatia por seus colegas, veremos o que foi herdado e descobriremos o que as difere dos demais corvos. Acompanhe:

Características visuais

Os animais do gênero corvidae costumam ser maiores e mais robustos com que outras espécies de aves. A maior parte das espécies de corvídeos possuem penas de cor escura, variando desde o vermelho acobreado, para o azul-marinho e o cinza. No entanto, as espécies mais conhecidas são mais aquelas que têm penas completamente pretas.

Os corvídeos não costumam apresentar dimorfismo sexual. Possuem pernas fortes e envergadura um pouco mais avantajada se comparado a outras aves.

Distribuição e habitat

Os corvídeos estão presentes em diversas regiões do Brasil, como florestas, cerrados e áreas urbanas. Se encaixam muito bem em diferentes locais e possuem uma alimentação diversificada que facilita a sua adaptação.

Os ninhos das gralhas podem ser encontrados desde um buraco em uma árvore até em torres de igrejas e chaminés. São feitos geralmente de gravetos e em seu interior é colocado lã ou cabelo, para forrar e aquecer o ninho. Dificilmente elas mudam seu ninho de lugar, gostam de viver em território fixo por toda vida.

É comum observar essas aves em conjuntos da mesma espécie, são consideradas de hábitos sociais, chegando a grupos de até 15 membros. Formam clãs onde permanecem unidos nas suas atividades, inclusive na busca de alimentos.

Comportamento dos pássaros

O comportamento dessas aves é realmente intrigante, sendo agradáveis de serem observadas. São metódicas e solenes, sem pressa em suas atividades, calculam bem suas ações, além de serem limpas, realmente dignas na postura que tomam. E não só vivem em bandos, como também brincam entre elas, são aves brincalhonas e um tanto travessas.

É bastante comum vê-las brincando com galhos, pinhas ou pedras, isso mesmo, elas usam brinquedos na hora da diversão. Sem contar a parte em que provocam e “riem” de outros animais. Outra característica marcante nelas é que sentem empatia para com os membros do seu grupo, ajudando e sendo solidárias quando outras gralhas do seu clã perdem uma batalha para outro animal.

Alimentação

A alimentação das gralhas é variada; elas comem desde plantas até animais de pequeno porte. Seu alimento principal são insetos e outros animais invertebrados, como cigarras, formigas, larvas, aranhas e caracóis. Porém, dependendo da região, podem se alimentar de pequenos roedores, ovos e filhotes de pássaros.

Para auxiliar na sua digestão e obter cálcio na sua dieta, elas também consomem alguns vegetais, que variam de grãos de cevada, trigo, sementes de ervas e frutos. Isso pode ser um problema para agricultores.

Reprodução

A reprodução das gralhas varia de acordo com as espécies. Algumas delas acasalam permanentemente, outras, em períodos específicos, iniciando sempre em estações mais quentes. Exemplo disso são as gralhas-azuis, que têm o período de reprodução de outubro a março.

Um fato curioso é que as gralhas procuram seu par e permanecem juntos por toda a vida, sendo conhecidas pela sua lealdade ao parceiro. Agem de forma cooperativa, desde a construção do seu ninho até a criação dos seus filhotes. As gralhas geralmente botam em torno de cinco ovos, e cada um eclode em momentos diferentes. O tempo de eclosão dos ovos é aproximadamente 31 dias, quando todos os filhotes já nasceram.

Espécies de gralha encontradas no Brasil

As gralhas são vistas espalhadas por praticamente todo o Brasil, vivendo em diferentes habitats, incluindo florestas, cerrados, caatinga, áreas urbanas, entre outros. Assim, abaixo você conhecerá as principais espécies e várias características a respeito delas. Veja:

Gralha-azul

dus Gralhas-azuis

A Gralha-azul (Cyanocorax caeruleus) é a ave típica dos pinheirais. Ela é muito encontrada na região sul do país, mas também habita florestas da Mata Atlântica. É uma das aves mais disseminadoras de pinheiros-do-paraná, por estocar suas sementes e, em alguns casos, esquecê-las escondidas em folhas e buracos na terra.

Alimenta-se basicamente de sementes e pequenos invertebrados. E seu período de reprodução inicia em outubro e termina em março. As gralhas-azuis vivem em bandos de 4 a 15 indivíduos, bem organizados hierarquicamente. Têm como características físicas as penas de cor azul vivo e a cor preta na cabeça, no pescoço e no peito. Medem em torno de 39 cm de comprimento, são aves muito inteligentes e bem comunicativas, com 14 tipos de vocalização diferentes.

Gralha-do-pantanal

Gralha-do-pantanal

A gralha-do-pantanal, como seu nome já diz, vive no bioma do pantanal, que corresponde às regiões mais centrais do país, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e partes do Paraná. Seu nome científico é Cyanocorax cyanomelas, de modo que "cyano" significa azul e "melas" corresponde a escuro, devido às suas penas, que são azuis, com um suave tom violeta. Devido a esse tom de plumagem, ela também é conhecida por gralha-cinza ou corvo-azul.

Ela se parece muito com as gralhas-azuis, porém, é levemente menor, medindo cerca de 35 centímetros. Uma particularidade dessas gralhas é que elas cruzam grandes áreas abertas e rios, geralmente em voo único, diferentes das outras espécies. Outra curiosidade é que não vivem em bandos, apenas em grupos menores.

Cancão-da-campina

Conhecida como gralha-da-campina e também por “corvo com a barba azul”, o cancão-da-campina tem o nome científico de Cyanocorax hafferi, em homenagem ao ornitólogo que descobriu esta espécie, Dr. Jürgen Haffer. Esta ave é encontrada nas regiões da caatinga.

Suas características principais são suas penas azuis-claras e as linhas azuis-escuras na região das sobrancelhas e abaixo do bico. Uma diferença bem específica desta espécie é o tom amarelado na íris e na sua cauda. Outro fato marcante é a sua crista escura e rígida que cobre a região das narinas. Quanto as demais características, não diferem de outras espécies de gralhas. Essas aves medem cerca de 35 centímetros e sua alimentação é à base de vegetais, pequenos invertebrados e frutos.

Gralha-cancã

Gralhas-cancã na árvore

A Gralha-cancã (Cyanocorax cyanopogon), também conhecida como cancão, também é nativa da caatinga. Ela é predominantemente branca e preta, e seus olhos possuem uma forte coloração amarela. A ave possui um canto forte e marcante, de modo que seu canto é reconhecido de longe.

Ela mede cerca de 34 cm e costuma viver em bandos de três a nove indivíduos, de modo que defende seu grupo com afinco, apresentando traços territorialistas. Ao contrário de muitas gralhas que se alimentam de insetos e de outros invertebrados, elas comem pequenos roedores, peixes e, inclusive, aves menores.

Gralha-de-nuca-azul

Esta espécie de gralha difere pouco do cancão-da-campina. A diferença está apenas na coloração de suas penas, que têm predominância do azul-claro nas partes inferiores e do azul-escuro nas superiores, enquanto o cancão tem um tom azul-celeste, quase branco.

Seu comprimento é de 33 centímetros, e elas vivem em locais arenosos, florestas e matas ralas ou caatinga da região amazônica. Seu nome científico é Cyanocorax heilprini, e ela é uma espécie pouco conhecida que foi encontrada em pequenas quantidades. Inclusive, teme-se que possa entrar em extinção antes de a conhecermos melhor.

Gralha-do-campo

Cyanocorax cristatellus

As gralhas-do-campo (Cyanocorax cristatellus) vivem no centro-oeste do país. São conhecidas também por gralha-do-cerrado por habitarem em especial este bioma brasileiro. Suas penas chamam bastante a atenção pela sua coloração, característica bem diferente das demais espécies.

Tem plumagem de um azul forte, principalmente na parte das suas asas, com uma mistura de preto e branco nas demais partes do corpo. Mede cerca de 35 centímetros de comprimento. Dentre as várias espécies de gralhas conhecidas no Brasil, é a que tem os costumes mais curiosos. A alimentação dessas gralhas é a mesma das demais espécies, com sua dieta sendo composta de pequenos insetos, sementes, ovos e frutos.

Gralha-violácea

Essas gralhas são encontradas na amazônia, nos estados de Rondônia, Roraima, Acre e Amazonas. As gralhas-violáceas (Cyanocorax violaceus) evitam florestas de terra firme, e geralmente se encontram em áreas fluviais, como ilhas, ou as margens de rios e lagos.

Elas vivem em bandos e adaptam estratégias de voos defensivos contra predadores, voando em filas indianas, atravessando ilhas. São aves de maior tamanho, ao compararmos com outras espécies, chegando a medir cerca de 37 centímetros de comprimento. Por viverem nessas regiões fluviais, sua alimentação é um pouco diferente das demais gralhas; além dos frutos, grãos, e pequenos insetos, elas podem se alimentar de pequenos peixes também.

Gralha-picaça

Cyanocorax chrysops

A gralha-picaça (Cyanocorax chrysops) vive em locais altos, habita matas e raramente desce ao chão, com exceção de quando um alimento cai. Sua principal alimentação são pequenos animais, ovos e grãos.

Assim como a gralha-azul, gostam muito das sementes de pinheiros-de-araucária, e auxiliam muito na disseminação das sementes de pinheiros.

Seu canto é um tanto peculiar, e imita vozes de mamíferos e outras aves. Sua voz é considerada tagarelante, por ser mais aguda. Essas gralhas medem 34 cm de comprimento e têm uma cauda longa, de 17 centímetros.

Gralha-da-guiana

Gralha-da-guiana

As gralhas-da-guiana (Cyanocorax cayanus) carrega o nome do seu país de origem, no entanto, também estão presentes na Amazônia. Preferem viver nos arredores das matas e florestas. Elas dificilmente entram em florestas densas, e também podem ser encontradas em solos arenosos.

São vistas geralmente em bandos de doze ou mais indivíduos. Medem, em média, 33 centímetros de comprimento, e possuem três cores específicas nas suas penas. Suas asas são em tons azuis-claros e escuros, a cabeça é preta e o corpo tem tons de branco. Sua alimentação e sua reprodução não diferem das demais espécies de gralhas.

Mais sobre os "corvos do Brasil"

corvos do brasil gralhas

Vimos muitas semelhanças e diferenças dessas aves presentes no Brasil. E, além de tudo o que já foi mencionado até aqui, ainda temos muito o que aprender sobre as gralhas, também conhecidas por “corvos do Brasil”. Veja outras informações interessantíssimas a respeito delas:

Existe diferença entre gralha e corvo

Existem diferenças básicas entre gralhas e corvos, como, por exemplo, o tamanho e a cor. As gralhas geralmente são menores que os corvos.

Tratando-se da coloração das suas penas, os corvos tendem a serem totalmente pretos, enquanto as gralhas variam, de tons cinzas até mesmo os azuis-claros, como vimos nas gralhas que vivem por aqui.

Outra diferença é que as gralhas vivem em bandos de até quinze membros, formando clãs que podem possuir indivíduos de até duas gerações, enquanto os corvos são normalmente vistos sozinhos ou em pares.

Por fim, temos a diferença nos seus cantos: os corvos possuem vocalizações mais grossas e roucas, e as gralhas produzem sons mais agudos, como grasnidos.

Pássaros extremamente inteligentes

Todas as aves da família dos corvídeos são muito inteligentes, com fácil capacidade de aprendizado na natureza e mesmo os criados em cativeiro. Sua inteligência é comparada a dos chimpanzés e golfinhos. Elas criam ferramentas que auxiliam na alimentação, aprendem truques onde enganam outros animais fingindo-se de mortos, fingindo estocar alimentos em locais que não são os reais e atiram pedras em possíveis predadores que tentem se aproximar de seus ninhos.

Mais um sinal de sua inteligência é que podem identificar amigos da mesma espécie, mesmo que já tenham passado um longo tempo distantes. E quando se trata de gralhas criadas em cativeiros, elas sabem identificar os humanos individualmente. Realmente é incrível como são tão espertas.

Gralhas ficam grisalhas

Não são todas as aves em que é possível identificar quando estão em uma idade avançada, porque as penas não perdem facilmente a cor como os fios de cabelos humanos. No entanto, como a maioria das gralhas possui penas de cores escuras, se torna mais evidente o processo de envelhecimento devido às mudanças na estrutura das suas penas, afetando a sua coloração.

São atraídas por objetos brilhantes

As gralhas, assim como os corvos, são atraídas por objetos brilhantes. Como em alguns casos elas habitam regiões urbanas, há relatos em que essas aves “roubaram” chaves, moedas entre outros objetos brilhantes que de alguma forma chamaram sua atenção.

Estado de conservação dos "corvos do Brasil"

As gralhas do Brasil, com exceção de algumas poucas espécies com risco de extinção, estão aumentando seu número populacional, tendo em vista que possuem poucos predadores. Na natureza, a idade média de vida de uma gralha é de 17 anos, e pode chegar até 40 anos quando criadas em cativeiro. Atualmente, muitos projetos governamentais e ONGs regionais atuam com projetos de preservação das espécies de gralhas presentes no Brasil e no combate ao comércio ilegal dessas aves.

Os corvos do Brasil são incríveis!

gralha em galho

O nome científico da família das gralhas brasileiras é bem claro quanto à principal característica presente nas nove espécies encontradas no país. O nome latino, "Cyanocorax", traz o azul em "cyano", enquanto "corax" significa corvo.

Herdando os dons da perspicácia e da inteligência, elas são capazes de se adaptar e de se manter presentes em diversas regiões. Sem contar que reconhecem e agem com empatia para com seus amigos e familiares, um exemplo para todos os animais, incluindo para nós, humanos. Tivemos aqui a oportunidade de conhecer melhor as lindas gralhas presentes na fauna brasileira e, entre um tom de azul e outro de suas plumagens, aprendemos onde vivem, seus hábitos e curiosidades!

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