O que são os quelônios?
Quelônios são todos os répteis recobertos de cascos ósseos, conhecidos como tartarugas, o que também inclui cágados e jabutis. São muito confundidos porque esses animais apresentam pouca diferença em si.
É um grupo muito antigo de animais, que mantém as mesmas características desde a Era Mesozóica. Ou seja, mudaram muito pouco ou nada em relação a suas características visuais, reprodução, habitat e demais adaptações.
Todos os animais do grupo dos quelônios, na Biologia, pertencem a uma Ordem chamada de Tetudines, e podem ser considerados verdadeiros fósseis vivos! Para entender melhor sobre esses répteis tão estranhos, é preciso compreender sua história e seu modo de vida. Neste artigo, vamos entender sobre a vida dos quelônios e sua diversidade.
Características gerais dos quelônios
Quelônios são animais extraordinários que beiram a bizarrice devido à sua formação óssea. Apresentam cascos formados pela fusão das costelas com a coluna vertebral, sendo o único grupo de tetrápodes (animais de quatro patas) que apresenta as vértebras externas ao corpo. São todos ovíparos e também têm bicos córneos no lugar de dentes.
■Nome e origem
O termo “quelônio” vem da palavra grega “khelone”, que significa tartaruga. A origem exata dos quelônios ainda não foi determinada porque sua morfologia, com estrutura óssea externa, os torna muito diferentes dos demais répteis.
O que se sabe é que as espécies de quelônios estabeleceram suas características durante o Período Triássico (provavelmente sua origem também).
Fizeram sua evolução “ao contrário”, pois provavelmente surgiram a partir de espécies de tetrápodes terrestres, mas passavam a maior parte do tempo na água.
■Medidas dos quelônios
Há uma grande variedade a respeito de tamanho dos quelônios e geralmente, as tartarugas marinhas tendem a ser maiores. O menor quelônio conhecido é o jabuti Chersobius signatus, endêmico da África do Sul, que chega a 8 cm de comprimento. Já o maior quelônio vivo é a Tartaruga-de-couro, que pose passar dos 2 metros e pesar até 1 tonelada.
Essa variação acontece porque o tamanho corporal desses répteis está relacionado diretamente à regulação de sua temperatura corporal e adaptação ao seu ambiente e hábito de vida.
■Características visuais
Como mencionado anteriormente, o casco é a característica mais distinta dos quelônios. A parte superior dele é a carapaça, formada por oito placas que se fundem às vértebras. A parte inferior é o plastrão, derivado da clavícula. Quanto menor o plastrão, mais rápido o deslocamento do animal.
Outra peculiaridade desse grupo são suas quatro patas, que saem de dentro das costelas e podem ser retraídas, assim como a cauda e a cabeça. Essa última é a característica aparente que mais aproxima os quelônios dos outros répteis.
Os quelônios também não têm dentes. Nas suas mandíbulas inferiores e superiores há placas ósseas, chamadas de bico córneo. Em algumas espécies, essas placas podem ser bem duras e serrilhadas.
■Distribuição e habitat
Há aproximadamente 300 espécies de quelônios, com especializações para habitats terrestres, água doce e marinhos. Para entender sua distribuição, vamos conhecer as famílias existentes:
Testudinidae: terrestres — regiões temperadas e tropicais do mundo todo. Bataguridae: aquáticos, semi-aquáticos e terrestres — Ásia e América Central.
Emydidae: aquáticos, semi-aquáticos e terrestres — Américas, Europa, Ásia e África. Trionychidae: aquáticos — América do Norte, África e Ásia.
Carettochelydae: aquáticos — Nova Guiné e Austrália. Dermatemydidae: aquáticos — México e América Central.
Kinosternidae: aquáticos — leitos nas Américas. Chenoliidae: marinhos — regiões tropicais e temperadas do mundo todo.
Dermochelydae: mares frios. Chelydridae: aquáticos — Américas do Norte e Central, e do sudeste da China até Burma e Tailândia.
Chelidae: aquáticos — América do Sul, Austrália e Nova Guiné. Pelomedusidae: aquáticos — África.
Podocnemidae: aquáticos — América do Sul e Madagascar.
■Comportamento e reprodução destes répteis
Os quelônios são animais de vida longa, com espécies que podem passar dos 50 anos de vida. Durante as interações sociais, esses répteis usam sinais olfativos, visuais e táteis, como mordidas e golpes.
As tartarugas aquáticas machos nadam à procura das fêmeas, que podem ser identificadas pela cor e pelo padrão das patas traseiras. Após encontrar a fêmea, o macho nada de ré até ela e vibra suas garras, em comportamento de corte.
Já os quelônios terrestres machos vocalizam e exalam feromônios para serem reconhecidos por outros animais da espécie para reprodução.
Todos os quelônios botam ovos, e o sexo dos filhotes depende da temperatura de incubação desses ovos. Dessa forma, são enterrados em profundidades diferentes, para garantir um equilíbrio entre machos e fêmeas.
Espécies de quelônios: tartarugas
As tartarugas têm o casco mais leve e mais arqueado (alto) do que os demais quelônios. Isso ocorre porque a grande maioria das espécies de tartaruga são marítimas, e esse formato favorece a natação. Vamos conferir a seguir alguns exemplos de tartarugas:
■Tartaruga-gigante-de-galápagos
A Tartaruga-gigante-de-galápagos (Chelonoidis nigra) é uma espécie endêmica de Galápagos, no Equador, e é uma das poucas espécies de tartaruga exclusivamente terrestre.
É um dos maiores répteis do mundo, que chega a quase 2 metros de comprimento e 400 Kg. Podem viver 150 anos e tem uma dieta é composta de vegetais, principalmente frutas e folhas de cactos. Costumam ingerir em média 35 Kg de alimento por dia.
A reprodução dessa espécie pode ocorrer em qualquer época, e as fêmeas podem fazer até quatro posturas de ovos por ano.
■Tartaruga-cabeçuda ou amarela
A Tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) é a tartaruga mais comum. Pode ser encontrada em oceanos de regiões temperadas, tropicais e subtropicais de todo o mudo. Passa de 1 metro de comprimento e pode chegar a 150 Kg.
Recebe esse nome porque sua cabeça é grande em relação ao tamanho do corpo. Suas patas são achatadas e curvadas, utilizadas como nadadeiras e seu bico é forte, o que permite com que ela se alimente de caranguejos e outros invertebrados.
Pode ficar 3 anos sem se reproduzir, e seus principais pontos de desova no Brasil não praias do Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Rio de Janeiro. Podem viver até 70 anos.
■Tartaruga-verde
Dificilmente avistadas em alto-mar, as Tartarugas-verdes (Chelonia mydas) geralmente dão preferência a regiões costeiras, em mares tropicais, subtropicais e temperados.
Esse réptil pesa, em média, 16 Kg distribuídos em 1,5 m de comprimento. Possuem nadadeiras achatadas e alongadas, e sua cabeça é pequena em relação às patas dianteiras. Recebe esse nome porque sua gordura corpórea é verde.
Os filhotes são onívoros, enquanto os adultos são preferencialmente herbívoros, alimentando-se de plantas marinhas. Podem viver até 80 anos, e reproduzem-se até os 50 anos de idade. No Brasil, sua desova é comum no arquipélago de Fernando de Noronha.
■Tartaruga-de-couro
A Tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) é uma espécie encontrada em todos os mares de zonas temperadas e tropicais do mundo.
Alimenta-se de zooplâncton e águas-vivas, pode passar dos 2 metros de comprimento e chega até 1 tonelada. Os filhotes apresentam um tegumento fino, com aspecto de couro, cobrindo sua carapaça. O corpo da tartaruga é alongado e suas nadadeiras dianteiras podem ser igualmente longas.
O período reprodutivo da espécie acontece a cada 2 ou 3 anos. No Brasil, sua desova ocorre próxima à foz do Rio Doce, no Espírito Santo. Estima-se que esse animal possa viver até 300 anos.
■Tartaruga-de-pente
A Tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) recebe esse nome porque as placas que formam sua carapaça se sobrepõem, criando uma imagem semelhante a uma serra nas laterais do casco. Sua cabeça é alongada, com bico fino e proeminente.
Essa espécie pode ser encontrada nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Se alimentam principalmente de esponjas e sua reprodução ocorre a cada dois anos e podem viver até os 50 anos.
Espécies de quelônios: jabutis
Os jabutis são quelônios exclusivamente terrestres. Por isso, suas patas são grossas, similares a patas de elefantes, com garras aparentes. Além disso, destacam-se por sua forte vocalização. Conheça a seguir algumas espécies:
■Jabuti-piranga
O Jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria), é encontrado em vários países da America do Sul. No Brasil, pode ser encontrado em matas das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
Podem chegar a 60 cm e pesar até 40 kg. Apresentam escamas alaranjadas na cabeça e nas patas, sendo facilmente distinguível das outras espécies por essa característica.
Alimenta-se de vegetais e carne, e adaptam-se facilmente a qualquer tipo de dieta, sendo um animal comum para criação. Sua reprodução ocorre a partir dos 5 anos de idade, em qualquer época. Eles podem viver até 80 anos.
■Jabuti-tinga
O Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulata) encontra-se ameaçado pois já foi muito capturado e vendido para criação não autorizada. É encontrado ao norte da América do Sul e, no Brasil, exceto na região Sul
A carapaça desse réptil é brilhante, com placas amarelas. Mede aproximadamente 80 cm e pode chegar a 60 Kg. É um pouco maior que o Jabuti-piranga.
Sua dieta é onívora, sendo que essa espécie alimenta-se de frutas, insetos e vermes. Os machos são bem ativos para a reprodução, que ocorre em qualquer época. Vivem aproximadamente 80 anos.
■Jabuti-panqueca
O Jabuti-panqueca (Malacochersus tornieri), também chamado de tartaruga-panqueca, é um réptil pequeno e de casco achatado que pode ser encontrado em algumas regiões da África.
Sua carapaça é fina, ligeiramente flexível, e não passa dos 20 cm. Mesmo assim, esse animal pode chegar a pesar até 2 Kg. Sua coloração marrom permite a camuflagem em pedras e regiões mais áridas.
Outra peculiaridade dessa espécie é a sua reprodução, pois coloca apenas um ovo por postura. Seu período reprodutivo ocorre entre os meses da primavera e do verão. Alimentam-se exclusivamente de plantas e podem viver até 70 anos.
Espécies de quelônios: cágados
Podemos dizer que os cágados são um intermediário entre jabutis e tartarugas marinhas. Isso porque esses répteis transitam por habitats aquáticos e terrestres. Sua carapaça também é a menos espessa entre os quelônios, e eles apresentam membranas entre os dedos, similar aos anfíbios! Vamos conhecer algumas espécies de cágados:
■Cágado-de-carapaça-estriada
O Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) é encontrado na Europa, Ásia e norte da áfrica. É um réptil leve, que pesa até 500g e atinge até 20 cm de comprimento.
Têm olhos grandes, cauda longa e riscos amarelos na carapaça e na cabeça. São ótimos nadadores e também onívoros, apesar de se alimentarem principalmente de anfíbios e peixes.
Sua reprodução acontece de abril a junho, com apenas uma postura por ano. Essa espécie pode hibernar até sete meses seguidos no fundo de corpos de água doce. Estima-se que possa viver até 40 anos.
■Cágado-pescoço-de-cobra
O Cágado-cabeça-de-cobra (Hydromedusa tectifera) recebe esse nome por ter um pescoço muito longo. Para um cágado, sua carapaça é bastante rígida e pode atingir até 30 cm de comprimento, pesando em média 1 Kg.
Vive no Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Argentina. Não é uma espécie muito comum de ser localizada e é um bom caçador, que se alimenta de peixes, anfíbios, lagartos e pequenas cobras.
A reprodução ocorre na primavera e no verão. Por ser um animal ainda pouco estudado, não se sabe sua estimativa de vida.
■Cágado-mediterrânico
O Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) vive na região do Mediterrâneo, na Península Ibérica e norte da África. Pode chegar a 25 cm de comprimento e 700 g.
Seu casco e suas escamas apresentam coloração entre verde e cinza, com algumas linhas alaranjadas. São onívoros, com a dieta bastante variada. Reproduzem-se durante a primavera ou outono, sendo que os ovos demoram quase um ano para eclodir. Vivem no máximo 35 anos.
■Cágado-cinza
O Cágado-cinza (Phrynops hilarii) é encontrado na Argentina, Uruguai e Brasil, nos estados do Rio grande do Sul e Santa Catarina. Tem a carapaça achatada e cinza-escura, pesando até 5 Kg e medindo cerca de 40 cm.
É uma espécie comum, principalmente em leitos de rios. Alimenta-se principalmente de outros animais aquáticos, mas também pode comer alguns vegetais. Pode se reproduzir de uma a duas vezes no ano, e sua expectativa de vida é de 40 anos.
Algumas curiosidades sobre os quelônios
Os quelônios ou testudines estão entre os vertebrados mais especializados que se conhece atualmente. Ou seja, são um dos grupos com mais peculiaridades, tanto na aparência quanto no comportamento. Agora que já conhecemos as características gerais, vamos aprender algumas curiosidades sobre esses répteis.
■O extenso tempo de vida destes répteis
Sabe-se que os quelônios têm as adaptações mais antigas entre os animais vivos. Esse sucesso adaptativo também garante uma vida muito longa aos testudines, principalmente quando comparamos com outros répteis.
O que se sabe é que as espécies de maior porte são as que vivem mais. Essa longevidade, inclusive, acaba dificultando o estudo desses animais. No entanto, acredita-se que esse tempo de vida esteja relacionado ao seu metabolismo lento e sua fácil adaptação a diferentes temperaturas.
Essas características podem fazer com que o organismo fique melhor adaptado e se conserve melhor em relação ao envelhecimento.
■A criação de quelônios no mundo
A criação de quelônios pode ser comercial, conhecida como quelonicultura ou doméstica. Ao redor do mundo, os quelônios são criados para consumo de carne, aproveitamento do casco para fabricação de utensílios, ou até mesmo para fins medicinais, como ocorre na China.
No Brasil, a criação comercial de algumas espécies de quelônios está prevista em lei, mas podem ocorrer para fins de abate nos estados em que elas ocorrem naturalmente. Como animais de estimação só são permitidas as espécies Jabuti-de-pés-vermelhos e o cágado conhecido como Tartaruga-tigre-d’água.
■Estado de conservação dos quelônios
Muitas espécies de quelônios demoram vários anos para atingir a maturidade. Essa é uma característica que coloca a espécie em risco, devido à baixa taxa reprodutiva. Isso ocorre principalmente com as tartarugas marinhas e com os grandes jabutis.
A conservação desses animais é de interesse internacional, o que fez com que medidas fossem tomadas para proibição de sua extração em várias regiões do mundo.
Outro fator preocupante são os resíduos de lixo (principalmente plástico) que acabam em ambientes marinhos e causam danos graves a diversas espécies de tartarugas.
■Composição do casco dos quelônios
A carapaça do casco de um quelônio é composta de ossos que nascem de muitos pontos diferentes. Oito placas se fundem aos arcos da coluna vertebral, e depois se fundem às costelas. O plastrão é formado de ossificações do tegumento e uma parte da clavícula.
Tanto carapaça quanto plastrão são recobertos por escudos córneos (de tegumento endurecido), e formam uma peça rígida, o casco. Alguns quelônios possuem áreas flexíveis dos cascos, que seriam regiões de encontros de dois ossos.
Quelônios são tão intrigantes quanto dinossauros!
Se tivessem sido extintos no Triássico, com certeza os quelônios despertariam mais curiosidade do que os dinossauros.
Únicos animais com uma estrutura óssea tão complexa, formada no exterior do corpo, esses répteis também surpreendem por seu comportamento e habilidade de se manter com tão poucas modificações ao longo do tempo.
Todos eles sabem exatamente onde e em qual profundidade cavar para enterrar seus ovos e garantir a sobrevivência e diversidade sexual dos filhotes. Além disso, conseguem regular o próprio metabolismo e viver em locais adversos.
A história de vida dos quelônios fazem com que eles sejam vulneráveis à extinção (mesmo as espécies não ameaçadas), e isso sem contar a atividade humana. Por isso é tão importante preservar esse animais, para que os cientistas continuem estudando e entendendo melhor esses répteis tão fascinantes!
Bióloga e escritora