Você conhece os animais hermafroditas?
Um animal hermafrodita é um organismo que possui órgãos genitais masculino e feminino. Em muitas espécies, o hermafroditismo é uma parte comum do ciclo de vida. Geralmente, ele ocorre nos invertebrados, embora ocorra em um bom número de peixes e em menor grau em outros vertebrados. Historicamente, o termo “hermafrodita” também foi usado para descrever um órgão genital ambíguo em indivíduos de espécies unissexuais, por exemplo, minhocas.
Assim, existem diversos animais que são hermafroditas e que se reproduzem normalmente. Isso já era esperado, visto que não é uma doença, mas sim, uma condição diferente da maioria. Por isso, neste artigo, vamos conhecer diversos animais hermafroditas, desvendar o acasalamento, a reprodução e os costumes de vida de cada um deles. Vamos lá?
Entendendo o hermafroditismo
Antes de elencar quais espécies são consideradas hermafroditas, é preciso entender um pouco mais sobre o processo. Por isso, a seguir detalhamos quais tipos de hermafroditismo existem, quais são as diferenças em relação à reprodução sexuada e se a condição é comum entre os animais. Além disso, vamos descobrir se o processo também ocorre nos mamíferos. Confira!
■Tipos de hermafroditismo
Existem três tipos de hermafroditismo. São eles: hermafroditismo verdadeiro, pseudo masculino e pseudo feminino. O verdadeiro ocorre quando o ser vivo possui tecido ovário e testicular, de modo que o órgão reprodutor pode variar de completamente masculino ou feminino até uma combinação de ambos.
O pseudo feminino significa que um ser tem cromossomos XX (caracterizando um indivíduo feminino) e órgãos internos femininos normais, mas possui o órgão reprodutor masculinizado. Ademais, o pseudo masculino significa que o animal nasceu com cromossomos XY (caracterizando um indivíduo masculino), possuindo testículos que ficam geralmente escondidos na cavidade abdominal, mas apresentando órgão externo feminino.
■Diferenças na reprodução de animais hermafroditas
Os hermafroditas podem se autorreproduzir ou acasalar com outro ser da sua espécie, sendo que ambos fecundam e geram descendentes. A autofecundação é comum em animais com mobilidade limitada ou sem mobilidade, como mariscos ou minhocas.
Ainda assim, a autofecundação não gera diferenças nos cromossomos (por ser característica do próprio animal), fato que intensifica suas próprias características. Ele produz linhagens puras, priorizando as características que se pretende evidenciar. Entre outros animais que acasalam, pode ocorrer uma maior diferenciação cromossômica, influenciando positivamente a evolução da espécie.
■Pode ocorrer hermafroditismo em mamíferos?
O hermafroditismo é raro em mamíferos, pois a condição geralmente ocorre quando há uma anomalia genética durante o desenvolvimento sexual. Por isso, as condições de hermafroditismo às vezes também são chamadas distúrbios do desenvolvimento sexual (DDS), as quais são extremamente raras em humanos.
Mesmo assim, já foram encontrados alguns animais com traços hermafroditas, como alguns gatos, cachorros, tubarões e leões. Além disso, dados de 2016 estimavam haverem cerca de 160 mil pessoas no mundo consideradas hermafroditas.
Animais aquáticos hermafroditas
Vamos conhecer, a seguir, alguns animais aquáticos que são hermafroditas. Além disso, você descobrirá como eles se reproduzem, quais são os seus costumes e se a condição influencia em aspectos de suas vidas. Acompanhe.
■Camarão (Caridea)
Os camarões são hermafroditas, o que significa que eles podem se reproduzir com machos ou fêmeas, independente do sexo, embora não possam fertilizar seus próprios ovos. Em tempos de alta competição por companheiros, cada camarão produz menos óvulos e mais espermatozoides, visto que os óvulos dão mais trabalho para serem produzidos, e que o esperma de um indivíduo pode fertilizar muitos ovos.
Assim, o objetivo é transmitir os genes de um determinado camarão e, neste caso, o esperma fará o trabalho. Quando dois camarões formam pares em uma relação monogâmica, no entanto, eles passam a produzir mais óvulos e menos esperma, já que não há competição quanto à fertilização.
■Peixe-palhaço (Amphiprion ocellaris)
A reprodução hermafrodita do peixe-palhaço é baseada em um casal reprodutor que coabita com alguns peixes-palhaço não reprodutivos, "pré-púberes" e menores. Quando a fêmea morre, o macho dominante muda de sexo e se torna fêmea.
Essa estratégia de história de vida é conhecida como hermafroditismo sequencial. Como os peixes-palhaço nascem todos machos, eles são hermafroditas protândricos.
A época de desova dos peixes-palhaço, quando se reproduzem, é o ano todo nas águas tropicais. Os machos atraem as fêmeas cortejando-as. Eles colocam seus ovos em lotes em um coral, rocha ou próximo à alguma anêmona-do-mar. São liberados, então, de cem a mil ovos. O peixe-palhaço macho os guarda e os protege até eles eclodirem, cerca de 4 a 5 dias depois.
■Peixe-papagaio (Scaridae)
Os peixes-papagaio são hermafroditas protogínicos, o que significa que esses peixes formam um grupo com um macho e muitas fêmeas. Se o macho morre, a fêmea dominante passa por uma mudança de sexo (de aproximadamente cinco dias) para se tornar o macho dominante.
Após a mudança que a fêmea sofre, os peixes continuarão a crescer até atingirem a maturidade sexual, por volta dos 5 a 7 anos de idade. A reprodução ocorre por acasalamento, de modo que a desova pode ocorrer ao longo do ano, se as condições forem estáveis e produtivas. Depois disso, a prole recém-eclodida muitas vezes fica isolada por um tempo até amadurecer.
■Estrela-do-mar (Asteroidea)
A estrela-do-mar é outro animal aquático curioso. A reprodução dela é tipicamente heterossexual, mas ainda ocorre o hermafroditismo. Algumas delas se reproduzem assexuadamente por divisão do corpo (fragmentação). Para fazer isso, a estrela-do-mar perde um braço, de modo que o único braço solto consegue formar 4 novos braços, configurando um novo indivíduo!
Algumas estrelas chocam seus ovos e crias, outras conseguem liberar até 2,5 milhões de ovos em 2 horas. A reprodução também é possível por fissão.
■Ostra (Ostreidae)
A reprodução das ostras também ocorre pelo acasalamento, através da reprodução sexuada. Por mais que sejam hermafroditas, elas não conseguem se autofecundar. Assim, um macho, ou um hermafrodita que atua como macho, libera espermatozoides. Em seguida, eles são inalados por uma “fêmea” para fertilizar os óvulos na cavidade do manto.
O subsequente desenvolvimento larval ocorre na cavidade do manto protegida pela “fêmea”, ou pela hermafrodita que está atuando para a recepção dos ovos.
■Tucunaré (Serranus tortugarum)
O tucunaré, um peixe de em média 7 cm de comprimento, é capaz de trocar de papel sexual com seus parceiros até 20 vezes por dia. Tucunarés são hermafroditas simultâneos, e essa atenção à reciprocidade os ajuda a manter a cooperação entre os parceiros e reduz a tentação de trapacear.
Ele usa uma estratégia reprodutiva conhecida como “troca de ovos”, na qual subdivide sua postura diária de ovos em “parcelas” e alterna papéis sexuais com seu parceiro de acasalamento ao longo de uma sequência de surtos de desova.
■Bodião-limpador (Labroides dimidiatus)
O bodião-limpador muitas vezes é visto em cardumes juvenis ou em grupos de fêmeas acompanhadas por um macho dominante, onde uma fêmea se torna um macho funcional se o macho dominante desaparecer.
Alguns adultos também podem ser solitários e territoriais. Podem trocar de sexo se perceberem a necessidade, sendo que o acasalamento monogâmico já foi observado não somente por necessidade, mas como ato facultativo e social.
■Gudião-azul (Thalassoma bifasciatum)
Assim como outros de espécies parecidas, o peixe gudião-azul é um hermafrodita sequencial e consegue trocar de sexo quando houver necessidade de encontrar parceiros para a sua reprodução. Geralmente, ele se apresenta como fêmea na maior parte da vida.
Não encontrando machos, esses peixes se transformam, sendo que essa mudança pode levar até 8 dias. Uma curiosidade é que a mudança de sexo é permanente. Então, eles optam por fazê-lo somente por necessidade de continuidade da espécie.
Animais terrestres hermafroditas
Além dos animais aquáticos, existem diversos outros hermafroditas que são animais terrestres. Alguns deles você pode, inclusive, já ter ouvido falar, como minhocas ou caracóis. Mas existem outras espécies muito curiosas. Venha entender!
■Caracol (Gastropoda)
A maioria dos caracóis são hermafroditas. As únicas exceções incluem certas espécies de água doce e outras marinhas, como os caracóis-maçã e os caracóis-pervinca. Além do hermafroditismo, os caracóis também florescem precocemente.
Eles tornam-se sexualmente maduros quando atingem um ano de idade. O caracol gigante africano é a maior espécie de caracol da Terra e pode botar até 500 ovos de uma vez. Como hermafrodita, ele acasala principalmente com outros parceiros, mas também pode se autofecundar, em casos raros.
■Minhoca-da-terra (Lumbricina)
As minhocas são hermafroditas simultâneas, e elas conseguem se fecundar juntas. Durante a relação sexual entre elas, os dois conjuntos de órgãos sexuais, masculino e feminino, são usados. Se tudo correr bem, os ovos de ambos os companheiros serão fecundados.
Dessa forma, isso acaba sendo uma escolha altamente eficiente de garantir a sobrevivência da espécie. Além disso, as minhocas vivem vidas bastante isoladas, aerando a terra, andando pelo solo e cavando em diversos locais. Assim, a reprodução sexual seria difícil se fosse a única alternativa. Por isso, elas conseguem copular juntas, em direções opostas.
Cada uma ejacula os espermatozoides de seus órgãos sexuais para dentro de um tubo viscoso, o qual, em seguida, é depositado no receptáculo de esperma da outra minhoca.
■Lagarto rabo-de-chicote (Aspidoscelis uniparens)
Os lagartos rabo-de-chicote são répteis que se reproduzem por partenogênese. Nesse processo, semelhante à reprodução das abelhas, os ovos sofrem uma duplicação cromossômica após a meiose, desenvolvendo-se em lagartos sem serem fertilizados.
No entanto, ovulação é realçada por rituais de namoro e de "acasalamento" que se assemelham ao comportamento de espécies intimamente relacionadas que se reproduzem sexualmente. A ninhada varia muito conforme sua vontade, clima e período no ano, sendo frequente de maio a agosto, gerando entre 7 e 20 filhotes.
■Dragão-barbudo (Pogona vitticeps)
Dragões-barbudos atingem a maturidade sexual com 1 a 2 anos de idade. O acasalamento ocorre nos meses de primavera e verão, de setembro a março. As fêmeas cavam uma toca e põem até 24 ovos por ninhada, e até 9 ninhadas por ano. As fêmeas também armazenam esperma e conseguem colocar muitos ovos férteis em um único acasalamento.
Uma informação bastante interessante, é que os dragões barbudos dependem da determinação sexual cromossômica, mas também são dependentes da temperatura. Assim, seu sexo é o resultado das temperaturas experimentadas durante o desenvolvimento embrionário: os machos resultam da exposição a algumas temperaturas, enquanto as fêmeas resultam de outras.
■Dragão-d‘água-chinês (Physignathus cocincinus)
Dragões-d'água-chineses fêmeas podem se reproduzir sexual ou assexuadamente, ou seja, com ou sem um macho. Isso é chamado de partenogênese facultativa e é útil quando um animal está tentando repovoar uma área e não consegue encontrar um parceiro.
Assim, as fêmeas desenvolvem rotineiramente folículos e põem ovos o ano todo, mesmo sem serem expostas a machos. Por isso, o filhote acaba sendo idêntico à mãe em questões cromossômicas, de modo que raramente mutações acontecem. Caso isso aconteça, é de forma esporádica e rara, não sendo influenciado pela partenogênese e nem por questões ambientais.
■Cobra-Liga-Comum (Thamnophis sirtalis)
As cobras-liga são muito difundidas, altamente adaptáveis e podem sobreviver a condições ambientais extremas. Essas cobras começam a acasalar na primavera, assim que saem da hibernação. Os machos saem primeiro da toca e esperam até que as fêmeas saiam.
Assim que as fêmeas deixam a toca, os machos as cercam e emitem feromônios que as atraem. Depois que a fêmea escolhe seu parceiro e acasala, ela retorna ao seu habitat de verão para se alimentar e encontrar um local de nascimento adequado.
Dessa forma, uma informação importante é que as fêmeas conseguem armazenar o esperma do macho até que seja necessário. Assim, uma fêmea pode não acasalar se não encontrar um parceiro adequado e, ainda assim, ter filhotes.
Outros animais hermafroditas
Além dos animais mencionados, existem outras espécies menos conhecidas que são hermafroditas e que possuem um estilo de vida interessante. Venha conhecer quais são elas, como se reproduzem e descubra se você já as conhecia. Acompanhe!
■Platelmintos (Platyhelminthes)
Os platelmintos são, geralmente, hermafroditas que produzem óvulos e esperma, de forma que os fluidos são trocados entre si durante a relação sexual. Como outros animais multicelulares avançados, eles possuem três camadas embrionárias, endoderme, mesoderme e ectoderme, e têm uma região da cabeça que contém órgãos dos sentidos concentrados e tecido nervoso.
As planárias, platelmintos que possuem vida livre, também se reproduzem assexuadamente por fragmentação. Pelo fato de possuírem as células reprodutivas femininas e masculinas, elas fertilizam os ovos internamente por cópula.
■Sanguessuga (Hirudinea)
Todas as sanguessugas também são hermafroditas. No entanto, elas se reproduzem sexualmente, geralmente entrelaçando seus corpos. O órgão masculino de uma sanguessuga libera um espermatóforo, ou uma cápsula que envolve o esperma, que é, então, ligada a outra sanguessuga.
Após ser conectado, o esperma sai do espermatóforo e segue através da pele da outra sanguessuga. Uma vez lá dentro, ele viaja para os ovários e fertiliza os óvulos, gerando os ovos e, posteriormente, os filhotes.
■Lesma-banana (Ariolimax)
As lesmas-banana são decompositoras e desempenham um papel importante no ecossistema. Elas comem detritos (matéria orgânica morta), incluindo folhas e plantas caídas, fezes de animais, musgos e esporos de cogumelos.
Como outros animais de espécies parecidas, elas são hermafroditas e conseguem se autofecundar, embora geralmente cortejem outros indivíduos. Elas colocam ninhadas de ovos sobre as folhas e o solo, e deixam a ninhada após a posta, não criando vínculos com os filhotes.
■Rã-arborícola-africana (Xenopus laevis)
Essa espécie de rã é considerada macho em épocas juvenis, logo após a fase de girino, e posteriormente se torna fêmea, em épocas reprodutivas. Porém, isso não acontece com todas essas rãs e é influenciado por questões ambientais, agrotóxicos e necessidade da espécie por reprodução, ou seja, quando há escassez de fêmeas.
Entretanto, a sua reprodução é sexual. Ocorre fertilização externa de ovos, depositados isoladamente na água. As fêmeas grávidas contêm de 1.000 a 27.000 ovos, sendo que as fêmeas maiores produzem ninhadas maiores.
■Tênia (Taenia saginata)
As tênias, embora sejam frequentemente encontradas no sistema alimentar, requerem dois e, às vezes, três hospedeiros (por serem parasitas) para se desenvolverem. Muitas vezes, precisam de artrópodes e de outros invertebrados para completarem seus ciclos de vida.
Elas são planas, segmentadas e hermafroditas, reproduzindo-se de forma sexuada e assexuada: o escólex se reproduz assexuadamente por brotamento, e as proglotes, que contêm órgãos reprodutivos masculinos e femininos, reproduzem-se sexualmente.
Gostou de entender sobre animais hermafroditas?
Muitos invertebrados e um número significativamente menor de vertebrados são hermafroditas. Um hermafrodita possui órgãos reprodutivos masculinos e femininos durante sua vida. Alguns desses animais se autofecundam, enquanto outros exigem um parceiro.
Hermafroditismo é um modo variado de reprodução que se manifesta de forma diferente dependendo da espécie. Assim, é uma estratégia reprodutiva vantajosa para algumas espécies. Animais que vivem em águas profundas ou turvas, ou que têm baixa densidade populacional, podem ter dificuldade em encontrar parceiros.
O hermafroditismo também permite que um peixe mude de sexo para poder acasalar com qualquer indivíduo de sua própria espécie que encontrar. Dessa forma, esses animais conseguem gerar descendentes sem grandes problemas. Os peixes, minhocas, ostras, camarões, sanguessugas e outras espécies hermafroditas aqui mostradas, além de serem ágeis, conseguem ter um estilo de vida despreocupado.