Animais ruminantes: o que são, sistema digestivo e exemplos

Animais ruminantes: o que são, sistema digestivo e exemplos

Você conhece os animais ruminantes? Entenda como funciona a fisiologia de um animal ruminante e conheça algumas espécies!


Você sabe o que são animais ruminantes?

Animal ruminante

Você já deve ter percebido que alguns animais, como a vaca, parecem que estão mastigando chiclete, né? O movimento de mastigação é tão repetitivo, que parece que eles passam o dia todo comendo, mas não é bem isso!

Os animais ruminantes são herbívoros obrigatórios, ou seja, alimentam-se de vegetação, e as fibras vegetais são muito mais difíceis de digerir do que a carne. Assim, todo o sistema digestório dos animais ruminantes é adaptado para quebrar e absorver os nutrientes das plantas que são ingeridas.

Parte dessa adaptação é justamente fazer com que o alimento, após engolido, volte para a boca do animal, para que seja mastigado novamente. Por isso os ruminantes passam tanto tempo mastigando! Para entender melhor como funciona esse tipo de digestão, continue conosco neste artigo.

Sistema digestivo dos animais ruminantes: da boca ao omaso

Vaca

Além de dentes “achatados”, que servem para esmagar e romper as fibras vegetais, os ruminantes têm um complexo sistema de órgãos para digerir o alimento. Vamos entender a seguir o início da digestão.

Boca e língua

A boca não é apenas a porta de entrada dos alimentos para o organismo animal, mas sim um órgão de digestão mecânica (dentes) e química (saliva).

Os dentes caninos geralmente são ausentes em animais ruminantes, pois não há necessidade de “rasgar” carne, com predominância de dentes molares e pré-molares. Já a saliva desses animais é basicamente uma solução de bicarbonato de sódio, que permite a fermentação do alimento já na boca, primeira etapa química da digestão dos vegetais.

A língua, por sua vez, faz o papel de “órgão prensor”, levando o alimento para dentro da boca, e é um importante músculo para a movimentação da mastigação, a qual quebra os vegetais em partículas menores e de mais fácil digestão.

Esôfago

O esôfago dos ruminantes apresenta uma musculatura forte, e é o órgão responsável por dois processos fundamentais na digestão desses animais, que ocorrem por meio de movimentos peristálticos e antiperistálticos (de contração e relaxamento): a eructação e a ruminação.

A eructação é o que conhecemos popularmente como arroto, e tem a função de eliminar o excesso de gases gerados durante todo o processo de digestão. Como a digestão dos ruminantes é altamente fermentativa, há uma intensa geração de gases.

A ruminação é o processo pelo qual o alimento parcialmente digerido (bolo alimentar) é conduzido do rúmen até a boca, para que seja mastigado novamente; é uma espécie de regurgitação.

Rúmen

O rúmen constitui a primeira parte do estômago dos ruminantes. O estômago ruminante, como um todo, abriga muitos microrganismos para realizar a fermentação e sintetizar proteínas, ácidos graxos e vitaminas do complexo B.

A alimentação do filhote interfere diretamente na formação do rúmem, pois são os alimentos sólidos ingeridos nessa fase da vida que criam o ambiente ideal para o desenvolvimentos dos microrganismos, interferindo até mesmo no tamanho do órgão.

Nessa primeira câmara do estômago, os microrganismos quebram a celulose (fibra insolúvel presente nas células vegetais), e o bolo alimentar é repetidamente regurgitado e remastigado graças à ação do esôfago. Os próprios ácidos graxos produzidos nessa etapa da digestão aumentam a etapa metabólica ruminal para que o processo continue.

Retículo

O retículo é uma porção pequena localizada na parte inferior do estômago, logo abaixo do esôfago. Assim que passa pela fermentação no rúmen, o bolo alimentar “cai” no retículo antes de ser regurgitado. Isso ocorre porque o alimento não pode passar para o omaso sem que as partículas estejam bem pequenas.

O retículo segue com o processo de fermentação, e é o responsável por “jogar” o bolo alimentar para o esôfago, em um movimento de contração. Seu revestimento interno é constituído por pregas membranosas que selecionam os tamanhos das partículas que podem passar para o omaso.

É importante entender que esôfago, rúmem e retículo não são câmaras totalmente separadas, e sua função é compartilhada e interligada durante todo o processo de digestão.

Omaso

O omaso corresponde à terceira câmara do estômago dos animais ruminantes. As partículas alimentarem que chegam nesse órgão apresentam, no máximo, 2 milímetros de espessura.

As paredes internas desse órgão são formadas por uma estrutura muscular disposta em forma de lâminas, repletas de papilas, que são as responsáveis pela absorção de água, dos minerais e ácidos graxos.

Há estudos que apontam que o omaso pode ser também um órgão de seleção, que faz uma espécie de filtro de quais partículas podem passar para o abomaso e quais devem ficar retidas. O que se tem certeza é que ele não absorve partículas sólidas, apenas absorve sua água e passa o bolo alimentar adiante

Sistema digestivo dos animais ruminantes: do abomasso ao ânus

Alce animal ruminante

Após as etapas ruminante e fermentativa, nas quais a celulose é quase toda absorvida, o bolo alimentar segue para novas etapas de digestão química e absorção de nutrientes. Vamos acompanhar a seguir quais órgãos participam dessa segunda parte da digestão.

Abomaso

O abomaso, também chamado de estômago verdadeiro ou, ainda, quarta câmara do estômago, é formado por um epitélio mucoso e glandular, com pregas mais acentuadas e longas. Essas mucosas são responsáveis por secretar o suco abomasal (suco gástrico dos ruminantes), um composto ácido e rico em enzimas digestivas, que dá início à etapa enzimática da digestão.

Esse suco abomasal umidece novamente o bolo alimentar, que tem seus microrganismos (recebidos das etapas anteriores) mortos devido à acidez. A partir daqui, o processo digestivo é similar ao dos demais mamíferos. As enzimas secretadas, como pepsina e pesinogênio agem da digestão de um bolo agora praticamente livre de celulose.

Fígado

O fígado dos animais ruminantes é similar ao dos demais mamíferos, e correponde à maior glândula do organismo. Ele faz uma espécie de “ponte” entre o sistema digestório e o sistema sanguíneo, uma vez que é capaz de eliminar toxinas presentes no sangue, principalmente aquelas absorvidas durante a digestão.

Nos ruminantes, especificamente, durante a fermentação proteica das primeiras câmaras do estômago, os microrganismos transformam proteína em amônia, a qual é convertida em ureia no fígado. A ureia é então transportada, pelo sistema circulatório, até o rúmen, onde é utilizada pelos microrganismos para o seu próprio crescimento. Assim, toda a proteína digerida pelos ruminantes é, na realidade, proteína microbiana.

Pâncreas

Outra glândula enzimática, o pâncreas secreta o suco pancreático, rico em enzimas, além dos hormônios insulina e glucagon, que também atuam no sistema endócrino. As principais enzimas produzidas pelo pâncreas são a amilase e a lipase, que agem no intestino delgado e quebram ainda mais as partículas de alimento do bolo alimentar para que possam ser absorvidas sob a forma de nutrientes.

Além disso, os hormônios secretados pelo pâncreas funcionam como reguladores de glicose sanguínea, controlando a quantidade de açúcar (ingerida sob a forma de carboidratos) que pode ser liberada ou armazenada no organismo.

Uma curiosidade: a insulina bovina é muito semelhante à humana, e o pâncreas da vaca pode ser utilizado para produzir insulina para o tratamento de diabetes!

Intestino grosso e delgado

Assim como nos humanos, os intestinos dos animais ruminantes são divididos em duas partes: o intestino delgado e o intestino grosso, que além de diferenças morfológicas, apresentam diferentes funções na digestão.
O intestino delgado, dividido em duodeno, jejuno e íleo, é responsável por realizar a maior parte da absorção de nutrientes e digestão intestinal, realizadas pelas enzimas pancreáticas, tripsina, quimiotripsina, amilase pancreática e lipase; e também por enzimas intestinais, como lactase, maltase, sacarase e dissacaridases.

O intestino grosso, por sua vez, é repleto de bactérias, a chamada flora intestinal, que produzem enzimas e também agem na fermentação do restante do bolo alimentar. É no intestino grosso que ocorre maior parte da absorção de água e início da formação do bolo fecal.

Reto e ânus

O reto é a última parte do intestino grosso, de estrutura muito similar ao restante do órgão, com epitélio mucoso absorvente; importante para absorver o restante da água e dos eletrólitos (sódio, potássio, cloreto) e para a finalização da formação das fezes.

Nesse órgão, também estão presentes bactérias que agem na decomposição de parte da matéria orgânica das fezes, que são misturadas com muco para serem eliminadas. O reto também sinaliza ao sistema nervoso a presença das fezes, o que “avisa o corpo” a necessidade da defecação.

O ânus, em sequência, mantém as fezes dentro do reto por meio da contração do esfíncter, que é relaxado no momento da evacuação, permitindo a eliminação das fezes e o final da digestão.

Exemplos de animais ruminantes que talvez você não conheça

Agora que você já entendeu como acontece a digestão dos ruminantes, chegou a hora de conhecer alguns animais que têm esse tipo de sistema digestório, além da vaca, que é o ruminante mais conhecido.

Girafas

Girafa animal ruminante

Conhecida pelo longo pescoço, não é muito comum que as pessoas se atentem à alimentação da girafa, mas ela também é um ruminante! Como todos os ruminantes, as girafas são herbívoras, e se alimentam de partes de árvores: folhas, flores, frutos e até mesmo o caule.

Geralmente, as girafas coletam seu alimento das copas das árvores, em grandes alturas, e utilizam a língua, que mede cerca de 50 centímetros, para fazer essa coleta. Por serem animais grandes e fortes, as girafas precisam de muito alimento (cerca de 15 Kg diariamente), e passam a maior parte do tempo atrás de comida.

Camelos

Camelo

Os camelos são animais considerados pseudo ruminantes, pois possuem apenas 3 estômagos. Vivem em ambientes áridos, e podem percorrer grandes distâncias sem água ou alimento disponíveis, apresentando algumas adaptações para enfrentar essa condição sem prejuízos ao seu organismo.

As corcovas presentes nesses animais têm a importante função de depositarem reservas de gordura, que podem ser utilizadas em casos de escassez de alimentos. Durante a digestão dos camelos, parte da gordura absorvida é levada até sua região dorsal e, quanto mais rígidas as corcovas, maior a quantidade de gordura disponível.

Rena

Rena animal ruminante

As renas não são animais encontrados no Brasil e, por serem exóticas, acabam despertando muita curiosidade por aqui, principalmente devido a seus grandes e chamativos chifres.

Esses animais são muito exigentes quanto à sua alimentação, e escolhem flores e folhas jovens, que não estejam caídos dos arbustos, além de vegetação rasteira e líquens, durante o inverno mais rigoroso, quando a vegetação é mais escassa. Para isso, conseguem escavar a neve para obter o líquen que ficou soterrado e essa é a principal fonte de carboidrato para as renas.

Ibex

Ibex

O ibex é um ruminante da mesma família das cabras, só que maior, não domesticado (selvagem) e com cornos muito maiores do que as suas primas. Esse animal vive em montanhas na Europa, então é comum não ser conhecido por aqui.

A alimentação do ibex é basicamente composta por grama (principalmente), folhas, sementes, flores, musgos e até mesmo pequenos galhos. Uma curiosidade sobre esse animal é que ele consegue se equilibrar apenas nas patas traseiras para pegar alimentos que estão fora de seu alcance.

Auroque

Auroque

Você já viu um boi selvagem? Com certeza a resposta é não, pois os bovinos selvagens já foram extintos há cerca de 400 anos. Esses animais eram conhecidos como auroques, e são os ancestrais dos bois domesticados conhecidos nos dias de hoje.

Cientistas acreditam que os auroques alimentavam-se de pastagens, de forma muito similar ao gado doméstico. Dessa forma, o trato digestório teria se mantido também muito parecido com o que conhecemos hoje. Os auroques foram extintos devido à caça e doenças transmitidas pelos animais domesticados.

Cervos e veados

Cervo

Os cervos e veados são herbívoros ruminantes que se alimentam principalmente de plantas lenhosas (que produzem madeira) e herbáceas (vegetação baixa), com destaque para o consumo de árvores do tipo pinheiros.

No entanto, assim como as renas, esses animais também podem cavar o chão em busca de raízes, mas são bem menos seletivos. Sua dieta também é constituída por líquens, folhas, pedaços de caules e, mais raramente, frutas e cogumelos. Podem, ainda, invadir plantações em busca de alimentos.

Búfalo e alces

búfalo animal ruminante

Assim como os demais ruminantes, os búfalos e alces têm a capacidade de converter alimentos de “qualidade inferior”, no que diz respeito ao valor energético, em nutrientes suficientes para manter seu organismo saudável e em desenvolvimento.

Os búfalos alimentam-se principalmente de pastagem, e inclusive de vegetação seca, como a palha. Como a maioria das espécies de búfalos é domesticada, também podem comer ração específica. Já os alces alimentam-se de brotos, vegetação rasteira, folhas e frutas, mas podem incluir outros tipos vegetais em sua dieta, como plantas aquáticas. Para obter sódio, esses animais costumam lamber o sal do solo.

Você já sabe tudo sobre animais ruminantes!

Veado em Nara Japão - animal ruminante

Neste artigo, entendemos como funciona a digestão dos ruminantes e qual a função de cada órgão em sua respectiva etapa para conversão do alimento em energia. Os ruminantes são todo herbívoros e, a partir de uma dieta aparentemente limitada para o grande porte desses animais, conseguem se desenvolver muito bem.

Isso se deve ao fato de adaptações que os ruminantes apresentam para digerir alimentos que outros animais não conseguem. A ruminação permite que o bolo alimentar passe muito tempo em fase de fermentação microbiótica, além da quebra mecânica das fibras vegetais por meio da mastigação repetida.

É por esse motivo que vemos animais como bois, veados e girafas mastigando boa parte do dia, para obter o máximo de nutrientes que seu alimento pode oferecer!

Autor deste artigo

Bióloga e escritora

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