Você sabe o que é o Auroque?
O Auroque ou Urus, como também é conhecido, é uma espécie de bovino já extinta. Os especialistas apontam que essa raça de bois selvagens que teve o seu último exemplar morto na Polônia em 1627 é o ancestral direto dos bois domésticos. O Auroque viveu majoritariamente nas planícies da Europa, Ásia e no norte da África.
Esse magnífico animal possui uma história incrível, com até mesmo uma possibilidade de retorno, ao melhor estilo “Jurassic Park”. Neste artigo, você vai conhecer tudo sobre os Auroques e, então, saberá o motivo de esse animal ser considerado tão importante e decisivo na história humana. Continue lendo!
Características do boi Auroque
Nesta primeira seção, apresentaremos informações técnicas e científicas sobre os Auroques. Aqui, você vai entender como eles se reproduziam, como eram, onde viviam, quanto pesavam e muito mais. Confira agora!
■Origem e história
Acredita-se que o local de origem dos Auroques foram as pradarias centrais da Ásia, onde hoje ficam países como Afeganistão e Paquistão. Dali por diante, o animal se espalhou, chegando a povoar praticamente toda a Ásia, Europa, Oriente Médio e norte da África.
Registros históricos até mesmo documentados sobre o Bos primigenius, nome científico do Auroque, podem ser encontrados no meio de vestígios de civilizações diversas, como os egípcios e alguns povos que habitaram a Mesopotâmia e o planalto do Irã.
Em termos de tempo, estima-se que há cerca de 320 mil anos começou o grande êxodo dos Auroques, saindo da Ásia para povoar todo o mundo antigo. Há 80 mil anos, eles dominaram a Europa, e há 8 mil, começaram a ser domesticados e caçados pelos humanos. Por serem animais robustos e resistentes, foram usados até mesmo como atração em lutas nos circos romanos.
■Características visuais
Os Auroques eram um pouco diferentes das vacas atuais, tendo características mais robustas e selvagens em todos os sentidos. Tinham enormes chifres pontiagudos que mediam, em média, impressionantes 75 cm e eram curvados para frente do rosto do animal, e não para cima.
Quanto à cor, os touros Auroques possuíam, geralmente, uma pelagem negra brilhante, enquanto as vacas e os bezerros podiam ser vistos tanto na cor preta, quanto em tons de cinza. Além disso, o dorso desses animais era mais robusto que a sua parte traseira, se assemelhando ao biotipo dos bisões modernos.
■Tamanho e peso do animal
O tamanho e peso eram, com toda certeza, a maior diferença entre os Auroques e as espécies de gado moderno. Esses bovinos eram realmente imponentes.
Estima-se que um touro Auroque adulto tinha entre 1,80 m e 2 m de altura, com um comprimento que podia chegar a impressionantes 3 m. As vacas iam, geralmente, de 1,60 m a 1,90 m de altura, tendo em média 2,2 m de comprimento. Quanto ao seu peso, os Auroques machos chegavam a quase 1.500 kg, enquanto as fêmeas pesavam em média 700 kg.
■Distribuição e habitat
Os Auroques eram animais amplamente distribuídos, habitando desde florestas indianas até regiões desérticas no Oriente Médio. Entretanto, o maior número de vestígios do animal aponta para um comportamento ligado à pastagem, assim como os seus descendentes modernos.
Desde o seu surgimento na Ásia, até o local onde os últimos Auroques foram vistos, na floresta de Jaktorów, na Polônia, a presença de áreas de pradarias e planícies é notada. Entretanto, nos últimos séculos de existência, as últimas populações de Auroques se esgueiraram até mesmo por pântanos, onde não eram perseguidos.
■Comportamento dos Auroques
Assim como todas as espécies de bovídeos, os Auroques tinham comportamento pacífico, vivendo em bandos de não mais de 30 indivíduos. O grupo era liderado por um macho alfa que conquistava seu posto através de lutas ferozes com machos rivais na época da reprodução da espécie.
Evidências apontam que os Auroques não possuíam muitos predadores por serem rápidos e fortes, tornando-se mais agressivos quando atacados. Porém, é possível que essa espécie de bovino extinta tenha servido de alimento para felinos em eras pré-históricas.
■Reprodução deste animal selvagem
A época do acasalamento dos Auroques, quando as vacas da espécie tornavam-se receptivas, dava-se provavelmente no início do outono. Nesse período, lutas sangrentas eram travadas por machos adultos de modo a decidir quem iria acasalar e liderar um bando.
Os bezerros nasciam entre seis e sete meses depois, no início da primavera, e ficavam com suas mães até atingirem a maturidade. Até completarem a idade de acasalar, os pequenos Auroques eram a preocupação principal de um bando, já que eram presas fáceis e visadas por lobos e ursos.
Fatos e curiosidades sobre o Auroque
Para encerrar o nosso artigo com informações relevantes, trouxemos mais três tópicos em que curiosidades sobre a vida dos Auroques serão apresentadas. Conheça tudo sobre o Projeto Taurus, o Gado Heck e os registros do Auroque através das eras.
■Projeto Taurus e tentativas de recriar o animal
Ao melhor estilo “Jurassic Park”, cientistas estão tentando recriar o Auroque. Espécimes de bovinos que são híbridos de Auroque já existem, mas a meta é ter animais puro-sangue em breve.
Liderado pelo ecologista Ronald Goderie, o Projeto Taurus é uma iniciativa que busca, através do método de “linhagem reversa”, trazer o Auroque de volta à vida. O cientista acredita que, cruzando espécies que comprovadamente descendem do Auroque entre si, animais com o DNA cada vez mais próximos dessa espécie de boi primitivo vão surgir.
■Gado Heck: o descendente do Auroque
O Gado Heck é uma espécie de bovino que possui grande semelhança física e compatibilidade genética com os antigos Auroques. Esses animais são resultados de um programa que também visava trazer os Auroques à vida novamente, iniciado em 1920 na Alemanha pelos zoólogos Heinz e Lutz Heck.
Assim como no Projeto Taurus, foram feitos diversos cruzamentos entre espécies de bovinos europeus que possuíam as características do Auroque. O resultado foram animais com mais de 70% de compatibilidade geral com a antiga e extinta espécie de boi.
■Registros deste animal selvagem
Talvez o Auroque seja o animal mais bem representado pelos humanos ao longo das eras. Pinturas rupestres na Europa, como as famosas inscrições do Vale do Côa em Portugal e das cavernas de Chauvet-Pont d'Arc na França, por exemplo, datam de mais de 30.000 a.C.
Além disso, milhares de fósseis inteiros desses bovídeos foram encontrados por toda Europa e Ásia, de onde pesquisadores tiraram amostras de DNA para sequenciar o código genético do animal.
Até mesmo em diários de soldados romanos é possível ler sobre o uso de Auroques em batalha, além de gravuras egípcias que destacam o animal como sendo a encarnação do boi Ápis, uma figura mitológica reverenciada pela civilização do Nilo.
Auroque: a prova definitiva de que, se quiser, o homem pode preservar a natureza
A trajetória decisiva do Auroque proporcionou aos seres humanos a sobrevivência, pois através dele surgiu o gado doméstico, usado como alimento por grande parte da população mundial. Tudo leva a crer que esse animal magnífico foi extinto, ao passo que as populações humanas se expandiram sobre o seu habitat, ao passo que outras espécies de bovinos avançava.
Entretanto, iniciativas como o Projeto Taurus e os estudos conduzidos pelos irmãos Heck provam que o homem moderno pode fazer bem à natureza, se assim desejar. Porém, a lição trazida por esse boi primitivo aponta que a busca não precisa ser por reparação, como nessas tentativas de trazer o Auroque de volta, mas sim na preservação das espécies que ainda estão aqui.
Professor de História, técnico em Recursos Humanos e Redator Web.