Apresentando o Macrobrachium amazonicum ou simplesmente: o camarão da Amazônia
O Macrobrachium amazonicum, popularmente conhecido como camarão da Amazônia, Camarão-fantasma ou Camarão-sossego, é uma espécie sul-americana encontrada em água doce (nos rios, lagos, pântanos, riachos) e água salobra (nos rios estuarinos que sofrem influência direta do mar).
São animais com alto valor comercial, principalmente no norte e nordeste do Brasil, bem presente na culinária dessas regiões. Vem ganhando cada vez mais espaço na aquicultura, por seu retorno lucrativo aos cultivadores e por ser um camarão relativamente resistente.
Ficha técnica do Macrobrachium amazonicum
Veremos agora um pouco das principais características do Macrobrachium amazonicum: origem, distribuição e morfologia. Apresentam uma ampla distribuição na América do Sul, sendo encontrados em todos os países sul-americanos, exceto no Chile.
■Características gerais do camarão da Amazônia
Eles são camarões pequenos e transparentes, por isso também são chamados de camarão fantasma. Assim como alguns outros camarões do gênero Macrobrachium, o amazonicum apresenta diferentes morfotipos, ou seja, pequenas variações morfológicas dentro da mesma espécie.
Os diferentes morfotipos estão relacionados ao isolamento genético que a espécie sofreu ao se isolar geograficamente das outras populações. Por exemplo, os indivíduos encontrados na região Amazônica continental são diferentes dos encontrados na região costeira. O fato desses grupos não terem contato um com o outro acaba provocando essa diferenciação.
■Origem e distribuição geográfica
É uma espécie originária da Amazônia e tem distribuição ampla, podendo ser encontrado em todos os países da América do Sul, exceto o Chile. Sua distribuição inclui todas as principais bacias hidrográficas do leste da América do Sul.
Pesquisadores acreditam que a introdução da espécie em algumas bacias hidrográficas, como alto do Paraná, São Francisco e bacias hidrográficas do litoral nordestino, foi dada pela ação humana. Esta pode ser a causa de sua ocorrência muito ampla e de seus diferentes morfotipos, resultantes do isolamento genético.
■Aparência e morfologia do Macrobrachium amazonicum
Muitas características são importantes para se analisar uma espécie de camarão. Aqui vamos falar apenas das duas mais fáceis de visualizar: o rostro que é longo e fino, curvado para cima, com 8 a 12 dentes na margem superior e 5 a 7 dentes na inferior; os quelípodos (patas em formato de pinça) que também são longos e finos.
As variações morfológicas, como dito antes, provavelmente são resultantes do isolamento geográfico, que acabou provocando um isolamento genético, devido ao fato de as populações não cruzarem mais entre si. Análises genéticas confirmam esta hipótese e dividem esta espécie em três clados (grupos): Clado I - da Região Amazônica Continental, Clado II - das Bacias Paraná/Paraguai e Clado III - da Região Amazônica Costeira.
■Comércio do Macrobrachium amazonicum
Macrobrachium amazonicum é o principal camarão de água-doce explorado comercialmente nos estados do Pará e Amapá pela pesca artesanal, onde apresenta uma comercialização significativa, assim como no estado do Amazonas. Apresentam um grande valor comercial no Norte e Nordeste do Brasil.
Alimentação do camarão da amazônia
O camarão da Amazônia é onívoro e consome facilmente qualquer tipo de alimento disponível, como pequenos invertebrados, algas e até restos de animais mortos. Vamos saber um pouco mais sobre a alimentação dessa espécie.
■Macrobrachium amazonicum adoram algas
A dieta dos camarões da espécie Macrobrachium amazonicum é bem diversificada. Eles têm uma alimentação tanto de origem animal como vegetal. A alimentação de origem vegetal é feita a base de microalgas, algas e macrófitas.
As algas fornecem vários nutrientes importantes para eles como proteínas, iodo, cálcio, fósforo, magnésio, ferro e fibras. Quando eles estão no estágio larval, costumam consumir microalgas, que como o nome já diz, são algas de tamanho minúsculo, invisíveis a olho nu.
■Restos de ração de peixes como alimento para Macrobrachium amazonicum
Essa espécie é muito utilizada na aquicultura devido ao seu grande valor comercial. Para sua alimentação em cativeiro, é necessário encontrar um alimento que forneça de forma prática todos os nutrientes necessários para um bom e saudável crescimento.
A ração de peixe é bem utilizada em cativeiro. É uma rica fonte protéica e apresenta minerais e vitaminas essenciais para os camarões, porém, é um alimento de custo elevado e está sendo substituído aos poucos por farelo de soja.
■Animais mortos
A espécie Macrobrachium amazonicum é conhecida como faxineira, pois tem o hábito de se alimentar de restos de alimentos e de animais, assim como muitas outras espécies de camarão
Os animais que têm esse comportamento, de se alimentar de restos orgânicos, são conhecidos como necrófagos, detritívoros ou saprófagos. Esse comportamento é bem comum entre os camarões.
■Macrobrachium amazonicum como presas
Um dia da caça, outro do caçador. Assim como são predadores, tendo uma dieta bem diversificada, são presas fáceis de inúmeros outros animais como alguns insetos, peixes, aves, répteis e mamíferos.
São pequenos, transparentes e ágeis, o que pode dificultar um pouco os predadores. Entretanto, acabam sendo facilmente capturados na fase larval e no período de muda (fase de troca do exoesqueleto), pois são mais vulneráveis nessa fase.
Como criar o Macrobrachium amazonicum em aquário
Muitos aquaristas desejam ter um exemplar dessa espécie em suas casas. São camarões relativamente fáceis de criar. Só é preciso estar atento aos parâmetros da água, para que o camarão possa crescer forte e saudável. Tem o desejo de criar um? Então, vejamos alguns pontos importantes.
■Parâmetros da água para camarão Macrobrachium amazonicum
Todo aquarista deve ter em mente que o seu papel é deixar o aquário o mais próximo possível do ambiente natural do bicho. Para isso, os parâmetros da água são muito importantes e devem estar o mais próximo possível da realidade.
É uma espécie que prefere água mais quente, entre 20 ºC e 28 ºC. O pH deve estar entre 6,5 a 7,8. Outro parâmetro importante é o KH. Ele ajuda a manter o pH da água estável. O GH é responsável pela presença de minerais na água (dureza da água).
■O que é preciso?
O primeiro passo é bem óbvio, comprar um aquário. Um exemplo de dimensão que pode ser usado é: 40x20x30 cm ou 30 L. Você vai precisar também de filtradores e alguns equipamentos como cooler, termômetro, timer e testes Alcon.
É preciso também muita atenção quanto aos parâmetros, sendo necessário medi-los frequentemente para saber se estão na quantidade certa. Durante a noite, vários processos químicos ocorrem e podem alterar essas medidas.
■Como montar um aquário para camarão macrobrachium amazonicum
Depois que estiver com o recipiente para o aquário, monte o substrato, que pode ter 3 camadas: camada fértil, camada de mídias biológicas e camada com o substrato shrimp Sand. Depois vá adicionando os equipamentos para regular os parâmetros da água.
Os parâmetros devem ser vistos periodicamente, principalmente a temperatura, pH e amônia. A amônia é bem prejudicial aos camarões, quando na quantidade errada. Eles têm o hábito de pular do aquário, então tampe com cuidado.
■Transferindo o camarão para o aquário
Após a compra, adicione o saquinho ou o recipiente no qual ele veio dentro do aquário definitivo, mas sem tirar os camarões de lá. Esse processo é chamado de climatização, serve para os camarões não sofrerem um choque de temperatura. É necessário parear a temperatura da água do aquário com a do recipiente onde ele veio.
Depois da climatização, adicione 20 ml da água do aquário com uma seringa a cada 15 minutos para parear os parâmetros da água do aquário com os do recipiente e somente após esse processo, coloque os camarões no aquário com bastante cuidado.
Comportamento do camarão da amazônia
É uma espécie bem ativa tanto em seu habitat natural como em aquários. São dóceis, podem ser mantidos com outros peixes de porte compatível, desde que estes sejam pacíficos. Ficam a maior parte da manhã escondidos e a noite são mais ativos.
■Reprodução do Macrobrachium amazonicum
O padrão de reprodução da espécie pode variar de acordo com a temperatura, precipitação e características hidrológicas. Na aquicultura em lagoas, a reprodução para na temperatura da água abaixo de 20 ºC.
Em geral, os indivíduos da espécie se reproduzem ao longo do ano todo, mas o pico da reprodução ocorre durante a estação chuvosa. Isso estaria associado ao aumento no fluxo dos rios durante os períodos de chuva, que parece estimular a maturação gonadal (gônadas são os órgãos que produzem as células sexuais).
■Macrobrachium amazonicum: Dimorfismo sexual
Os machos adultos são ligeiramente menores que as fêmeas, têm mais espinhos no segundo par de pereópodos (patas torácicas, responsáveis pela locomação) e apresentam uma estrutura alongada, presente no segundo pleópodo, chamada petasma. Os pleópodos são as patas natatórias dos camarões, ficam presentes na margem inferior do abdomên.
As fêmeas têm o segundo par de quelípodos menor e com poucos espinhos. Essas características são mais acentuadas quando o animal está em sua fase adulta e na maioria das vezes são muito difíceis de ver no habitat natural, sendo necessária a utilização de uma lupa para a identificação em laboratório.
■Fases larvais
A reprodução dessa espécie ocorre no período noturno, onde o macho deposita o espermatóforo na fêmea e em 24 horas elas liberam os ovos, que eclodem dando origem aos náuplius (primeira fase larval).
Após a fase de náuplius, passam para fase de zoea, mysis, e só depois para pós-larva. Cada uma destas fases apresenta características bem específicas quanto a morfologia, necessidade nutricional e fisiológica.
■Alimentação no período larval
Esse período é de suma importância para um bom desenvolvimento do camarão. Eles precisam de uma boa alimentação, para terem todos os nutrientes necessários e se tornarem adultos fortes.
Como nessa fase eles são extremamente pequenos, pois nem mesmo são visíveis a olho nu, os alimentos também devem ser minúsculos, que é o caso das artémias (micro crustáceos) e das microalgas, muito consumidas por esses camarões no período larval.
Cultivo do Macrobrachium amazonicum ou camarão do amazônia
O Brasil a cada ano que passa, vem crescendo no cultivo de camarão. Em 2019 produziu cerca de 200 mil toneladas e está ganhando destaque no mercado internacional. Uma das espécies mais cultivadas na carcinocultura brasileira é a Macrobrachium amazonicum.
■Fatores ambientais: Macrobrachium amazonicum
Os camarões dessa espécie têm mostrado um excelente potencial para a carcinocultura, pois conseguem se adaptar bem em diferentes sistemas. São tolerantes a variações de alguns parâmetros da água como pH e temperatura, o que facilita muito o processo.
É essencial observar os parâmetros de turbidez da água, quantidade de nitrato, amônia e um fator muito importante é o nível de oxigênio dissolvido. Com o aumento da densidade populacional, deve-se aumentar a alimentação. Com isso, a respiração da espécie e dos micro-organismos aumenta, podendo reduzir o oxigênio dissolvido a níveis muito baixos, o que causaria a morte dos indivíduos. É preciso estar atento.
■Biologia Populacional do camarão Macrobrachium amazonicum
O estudo da biologia populacional é importantíssimo, pois ajuda a entender quais grupos estão tendo mais sucesso no cultivo e consequente trarão qualidade na produção. Todo cultivador deseja manter o padrão de qualidade para manter e alavancar as vendas.
Estudos realizados em populações naturais de M. amazonicum têm mostrado a existência de grande variabilidade de tamanho dos animais. Pensando em produção para cultivo, os maiores e mais saudáveis, machos e fêmeas, devem ser escolhidos para reproduzir e gerar outros indivíduos semelhantes a eles.
■Sustentabilidade econômica
Esta espécie apresenta grande importância econômica por ser utilizada como fonte alimentar e um ótimo potencial para produção em cativeiro. Existem alguns estudos relacionados aos valores necessários para se investir na aquicultura de camarões amazônicos. Todos eles mostram um retorno lucrativo e seguro.
É muito difícil dizer ao certo quanto deverá ser investido, pois isso pode variar muito dependendo do tamanho do cultivo. Alguns fatores que podem ajudar a entender porque o cultivo dessa espécie é rentável: rápido crescimento, da fase larval para adulta, espécie de fácil adaptabilidade e boa procura no comércio.
■Etapas do cultivo
O cultivo de camarão envolve várias etapas. Existe a fase da larvicultura, que é o processo de cultivo e cuidado dos camarões no período larval. Este processo é bastante importante e delicado, pois essa é uma das fases mais frágeis do camarão.
Após chegar o período pós-larva, o camarão é enviado para fase de cultivo pós-larva, onde deve passar pelo processo de berçário, para que as pós-larvas se desenvolvam um pouco mais, antes de serem transferidas para o viveiro de engorda, na fase juvenil e adulta.
Do Brasil para o mundo
O Macrobrachium amazonicum é uma daquelas espécies brasileiras que nos enche de orgulho. Amplamente distribuídos e com alto grau de adaptabilidade, são muito utilizados na pesca artesanal no Norte e Nordeste do Brasil e são muito consumidos por povos indígenas e brasileiros de todos os grupos econômicos.
Além disso, este camarão mostra um alto potencial para a aquicultura e vem sendo cada vez mais cultivado no Brasil, ganhando destaque internacional. Como é bom saber que nosso Brasil tem uma biodiversidade tão rica e importante, seja na fauna como na flora. Cabe a nós cuidar e respeitar o que é nosso através da preservação do meio ambiente.