Raça Guzerá: veja características, preço, criação e mais

Força e resistência são características marcantes no Guzerá. Mas ele não é um gado que se resume somente a isso, pois tem também grande versatilidade em aspectos como produção e cruzamentos, e proporciona vantagens financeiras interessantes, já que ele não tem preço de aquisição acima das outras raças e não demanda gastos dispendiosos.

Além dessas singularidades do Guzerá que você vai aprender com profundidade neste artigo, aqui você vai descobrir também as curiosidades e os detalhes sobre a criação desta raça bovina. Então, se você curte o mundo da pecuária ou apenas tem curiosidade pelo assunto, aproveite o artigo e tenha uma boa leitura!

Neste início de artigo, você vai conhecer as características do Guzerá. Continue a leitura para descobrir a origem dele e para aprender tudo sobre os aspectos físicos, produtividade, comportamento, reprodução e cruzamentos que dizem respeito a essa raça.

O Guzerá é uma das muitas raças zebuínas existentes, ou seja, é uma das raças bovinas de origem indiana. A sua existência é bem longeva através do tempo, possuindo vários registros históricos. Embora não se saiba com precisão o ponto de partida da sua origem, sabe-se que, em 1500 a.C., já existia a raça Guzerá.

No Brasil, a história do Guzerá começou por volta de 1870, quando ele chegou ao nosso país. Desde então, ele ganha o seu espaço na pecuária nacional e, até 2017, contava com 450.000 animais registrados pela Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando do Brasil (ACGB), que defende o interesse dos criadores da raça no país.

O Guzerá é um gado de porte grande, musculoso e o mais pesado entre os zebuínos. Os machos adultos pesam entre 750 e 950 kg, e as fêmeas, entre 450 e 650 kg. Essa raça possui pelagem cinza-claro, mas com predominância de cinza-escuro na frente e na traseira do animal, embora as fêmeas tenham pelagem mais clara que os machos. Há também alguns desses animais com tom pardo ou prateado.

Além dessas características, o Guzerá possui também giba (cupim) médio; chifres grandes, escuros e em forma de lira; crânio em forma triangular e de tamanho médio; narinas dilatadas, olhos elípticos e pretos; focinho preto; e orelhas pendentes, relativamente largas e com pontas arredondadas.

O Guzerá é uma raça de dupla aptidão, ou seja, apto à produção de carne e leite, o que faz o criador de gado Guzerá poder optar tanto pela pecuária leiteira, quanto pela pecuária de corte. Mas, no Brasil, uma parcela menor é destinada à produção leiteira, pois a maioria é selecionada para produzir carne, aptidão essa em que o Guzerá tem um alto índice de desempenho.

No mercado da carne, a rentabilidade do Guzerá tem grande valor no rendimento do abate e essa raça possui boa qualidade de carcaça. Já no mercado leiteiro, as fêmeas desse bovino produzem leite de boa qualidade, que não causa alergia ao ser humano e com uma baixa contagem de células somáticas.

Essa raça é mansa e dócil, que não apresenta problemas de temperamento. Isso é ótimo, pois essas características facilitam o manejo do gado, facilitam a ordenha, no caso de bovinos selecionados para a produção leiteira, diminuem o estresse no rebanho, contribuem na reprodução do bovino e inibem gastos maiores para os criadores, o que é bom para o lucro do negócio.

Além de apresentar esse comportamento pacífico, o Guzerá tem boa resistência para fazer caminhadas em grandes distâncias e é um gado que possui passos longos: ao andar, os pés alcançam as marcas deixadas pelas mãos. E não é raro, inclusive, as marcas traseiras ultrapassarem as marcas dianteiras quando ele caminha.

O Guzerá é extremamente fértil, mesmo em condições desfavoráveis. Seu peso ao nascer é de apenas 30 kg nos machos e 28 kg nas fêmeas, o que facilita o parto.

Quanto ao cruzamento com outras raças, ele se destaca pela sua versatilidade. Do cruzamento com a raça holandesa ou com o pardo suíço obtém-se vacas leiteiras de alta qualidade e bons machos de corte. Já o cruzamento com o gado Nelore é uma ótima opção para os produtores de gado de corte, e o cruzamento do Guzerá com raças europeias aumenta a rusticidade das crias.

Mas esses são só alguns exemplos, pois o Guzerá tem alta aptidão no cruzamento industrial e apresenta excelentes resultados ao cruzar com outras diversas raças.

Agora que você já conhece as características do Guzerá, é hora de saber quanto custa comprar um bovino dessa raça, onde encontrá-lo à venda, e de ficar por dentro dos custos gerais com o rebanho desse gado. Vamos lá?

Muitos fatores influenciam os preços do gado, como idade, valorização da raça no mercado, qualidade genética do bovino e se ele é registrado, por exemplo. Isso vale para gado de qualquer raça.

Para os que procuram o Guzerá, é possível encontrar um touro da raça com preços em torno de R$ 8.000,00, podendo chegar a R$ 12.000,00; uma novilha, por cerca de R$ 5.000,00; uma vaca, na média de R$ 7.000,00; um tourinho de até dois anos, R$ 6.000,00; e um bezerro, R$ 3.500,00.

Essas são as médias de preços praticados no mercado, mas vale a pena ficar de olho nos leilões também, pois é comum nesses eventos haver bovinos com preços mais em conta que esses.

Você encontra o Guzerá à venda nos mesmos lugares onde é possível encontrar bovinos de outras raças. Os locais mais comuns são as feiras agropecuárias, os leilões, os diversos sites de classificados e diretamente com algum criador. Mas no caso do Guzerá, você pode acompanhar as divulgações do site e das redes sociais da Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando do Brasil (ACGB).

Dessa maneira, você vai ficar por dentro de leilões de criadores associados e exposições do gado Guzerá que ocorrem durante o ano no Brasil, com a chancela da associação, e vai encontrar bovinos Guzerá como touros, tourinhos, vacas, novilhas, bezerros, além de oferta de genética da raça.

Criar um Guzerá é muito vantajoso financeiramente, porque, além de sua produção ser boa, ele proporciona baixo custo na criação. Por ter a melhor conversão alimentar dentre todos os zebuínos, ou seja, menor consumo de alimentos para ganhar um quilo, alimentá-lo sai mais em conta do que um bovino de outra raça zebuína.

No quesito saúde, o Guzerá também é econômico, pois ele apresenta elogiável tolerância a insetos e resistência a doenças, o que reduz custos com veterinários. O bom temperamento do Guzerá também alivia o bolso do criador, pois um gado dócil com ele estressa menos o rebanho e evita gastos com contusões do animal, por exemplo.

A criação do Guzerá compartilha práticas que também servem para as outras raças bovinas e possui particularidades que têm mais a ver com ele. Vamos aprender sobre isso mais a fundo?

O Guzerá não é muito exigente no que diz respeito às condições da área de criação, pois ele se adapta bem às situações adversas do ambiente, a ponto de conseguir atravessar longos períodos de estiagem sem passar grandes dificuldades. O segredo para isso é a sua rusticidade, característica que veremos logo adiante neste artigo.

E, por ser uma raça pouco exigente quanto às condições da área de criação, quem sai ganhando com isso é o criador, que tem um gasto menor com despesas, bastando apenas ter uma boa pastagem e oferecer uma alimentação que não necessita de grandes investimentos.

As instalações para criar o Guzerá dependem do sistema produtivo em que ele está inserido, então, como ele é um gado de dupla aptidão, tudo depende se ele vai ser usado na produção de carne ou de leite.

Na produção de carne, o gado de corte vai estar inserido no sistema de cria, recria e engorda, onde o gado precisará de área de pastagem e de instalações de confinamento ou semiconfinamento na fase de engorda, por exemplo.

Já na produção leiteira, o gado precisará de uma pastagem no sistema de criação extensivo ou de instalações como cocho para se alimentar e de galpão ou salas de ordenha e de resfriamento.

A alimentação do Guzerá depende da finalidade à qual ele se destina, se é o corte ou a produção de leite. No caso do corte, o leite da mãe é o alimento básico na fase de cria. Na de recria, a pastagem e a mistura mineral passam a fazer parte da dieta. E na de engorda, há duas escolhas: aproveitar ao máximo a alimentação suplementar no período mais seco e a pastagem na época das chuvas ou confinar o gado no período da seca para alimentá-lo no cocho com uma alimentação balanceada.

Já no caso da produção leiteira, o Guzerá recebe sal mineral e uma nutrição equilibrada e balanceada entre alimentos volumosos e alimentos concentrados.

O curral é um dos locais que precisa de atenção em relação à higiene, pois ele deve ser limpo com frequência e ser arejado. Esterilizar utensílios, manter a limpeza dos uniformes e aventais dos profissionais de manejo do gado, e seguir protocolos de limpeza do início ao fim na ordenha são alguns dos principais cuidados que não podem ser negligenciados em relação à higiene na criação do gado.

Quanto à saúde do gado, é essencial vaciná-lo e alimentá-lo bem, oferecendo alimentos de boa qualidade, conforme o objetivo da criação e produção do bovino, e água limpa e em abundância, principalmente ao gado leiteiro, já que, quanto mais água ele ingere, mais leite ele produz.

Tratar bem o gado faz parte do manejo do rebanho. Para isso, é essencial que algumas práticas sejam utilizadas, como separar os animais por faixa etária; oferecer um bom pasto para o gado após a desmama, evitar sujeira no pasto e não deixar o gado permanecer em locais muito úmidos ou alagadiços.

No caso do gado leiteiro, é fundamental garantir suplementos e alimentos de boa qualidade; disponibilizar boas instalações no confinamento no sistema intensivo de criação; oferecer água limpa e abundante constantemente; e não açoitar ou ferir o animal.

Com essas e outras práticas, o criador garante o bem-estar do gado no manejo e tem condições de oferecer carne ou leite de boa qualidade.

O Guzerá tem curiosidades muito apreciadas e interessantes no mundo da pecuária, como a sua rusticidade, o interesse que ele despertou em Getúlio Vargas e as proezas do touro Napole que lhe renderam fama. Vamos saber mais sobre isso?

Rusticidade é o quanto de resistência e capacidade que um gado tem para suportar as intempéries do meio ambiente. Essa característica é fortemente presente nos zebuínos, como o Guzerá, mas nesse quesito, ele é imbatível.

Por ser originário de uma região com temperaturas altas e com baixa fertilidade, o Guzerá se adaptou muito bem ao clima tropical do Brasil e hoje está presente em boa parte do nosso território nacional. Para se ter uma ideia, essa foi a única raça bovina que sobreviveu produtiva à grande seca no Nordeste entre 1978 e 1983, além de ter sobrevivido a outras secas severas na região anteriormente.

A rusticidade é muito apreciada pelos criadores, pois ela proporciona pouco gasto com tratamentos veterinários.

Quem também se interessou pelo Guzerá foi o ex-presidente do Brasil Getúlio Vargas, em 1936, quando o gado dessa raça venceu a Exposição Nacional desbancando as campeãs das raças Holandesa, Guernsey e Jersey, o que provocou entusiasmo no então presidente.

Na ocasião, Getúlio chegou a comer o churrasco feito com carnes da campeã da raça Guzerá e, logo depois, deu autorização para serem feitos os registros das raças de gado zebu no país.

O Napole foi um touro Guzerá leiteiro famoso na pecuária brasileira atual e que gerou nada menos que 20.000 doses de sêmen durante todos os seus quase 16 anos de vida, o que resultou em R$ 413.000,00 de faturamento apenas com a venda de seu material genético.

Outro destaque do Napole era o seu comprovado DEP Leite de 176 kg. DEP é a Diferença Esperada na Progênie, um cálculo que avalia o mérito genético do animal e prediz a habilidade de herança genética das crias desse mesmo animal. No caso do Napole, seu DEP prova que ele tinha excelente capacidade de transmitir genes de leite para suas filhas.

Se fosse para descrever o Guzerá em poucas palavras, estas seriam “versátil” e “rústico”, pois versatilidade é uma coisa que esse gado tem de sobra.

A sua dupla aptidão na produção, que o torna capaz de ser um bom produtor de leite e excelente produtor de carne, prova isso. E quem também comprova essa verdade são a alta capacidade de cruzamento, que ele tem com diversas outras raças bovinas, e os muitos resultados desses mesmos cruzamentos.

Já no que se refere à rusticidade, não há muito o que falar, pois nenhuma raça de gado é melhor que ele nesse quesito. E isso já basta para o Guzerá, que prova isso com a sua excelente resistência.